A polinização por vetores é um serviço extremamente valioso para o ecossistema, permitindo o transporte de pólen, que consiste na transferência do pólen da parte masculina da flor (antera) para a parte feminina (estigma). É através dela que ocorre a fecundação e, consequentemente, a formação de frutos e sementes que irão originar novas plantas. Ela pode ser realizada por diversos agentes polinizadores, entre eles aves, abelhas, borboletas, vespas e outros seres vivos que visitam flores como fonte de alimento ou que as acessam pela proximidade com o habitat natural.
Segundo o Conselho dos Exportadores do Café do Brasil (Cecafé), estudos conduzidos pela Rede de Pesquisa para conservação e Manejo Sustentável de Polinizadores, coordenado pela professora Blandina Viana, da Universidade Federal da Bahia, demonstram que uma maior quantidade de abelhas na produção do café pode trazer um aumento na rentabilidade dos produtores em até 30%, além de trazer outros benefícios, como uniformidade de grãos.
Nestes estudos desenvolvidos na Chapada Diamantina, houve evidências que apenas uma visita da abelha Apis mellifera nas flores de café é suficiente para depositar grãos de pólen nos estigmas das flores, que produzirão frutos mais pesados e de melhor qualidade. Já as flores não visitadas por essas abelhas produzem frutos com tamanho e peso mais variáveis (grandes e pequenos), o que diminui a produtividade média. Nos locais onde há maior variedade de ambientes, com proporções similares de agricultura e vegetação natural, há maior diversidade de recursos como alimento e abrigo. Nesses locais foram encontradas mais espécies de abelhas visitando as flores.
Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa e especialista em abelhas, aponta que a conexão entre as abelhas e a agricultura pode trazer benefícios para a plantação. Apesar de serem práticas independentes, quando colocadas na cafeicultura, gera um aumento na produção de café.
Segundo ele, se isolarmos as flores com telas impedindo o acesso das abelhas, teremos uma produção 28% menor do que quando temos a polinização aberta disponível para as abelhas do ambiente. Para ele, quanto mais abelhas na produção de café, mais frutos polinizados e bem produzidos.
Uma das soluções disponíveis para o produtor que quer melhorar a produtividade é justamente colocar colmeias de abelhas dentro da produção. Dessa forma, aumentará a quantidade de polinizadores e, consequentemente, a produtividade da lavoura de café.
A produtora Marisa Contreras, da fazenda Capoeira Coffee, localizada em Areado (MG), reservou para a safra 2020/2021 um hectare em que testou a polinização das abelhas. “O projeto é uma pareceria com a USP [Universidade de São Paulo] e a Embrapa. Antes da florada, fizemos a polinização. Colocamos 20 caixas de abelha no talhão e o avaliamos separadamente para entender como o café iria reagir. A princípio iriamos avaliar qual o aumento da produtividade que as lavouras teriam com as abelhas. Foi constato um aumento de 15%, mas eu queria saber com mais profundidade o que essa polinização seria capaz de trazer nas xícaras”, explica Marisa.
A cafeicultora conta que busca, cada vez mais, uma produção sustentável de café e que gere um impacto positivo na vida das pessoas, tanto as que trabalham com o grão, quanto as que irão consumi-lo. “Ficamos muito felizes com o resultado. Vimos um sabor sensacional no café, super doce com 29% de açúcar, tanto que o talhão todo foi vendido para um comprador da Alemanha, já que traz grãos mais saudáveis e sustentáveis”, finaliza.
Fonte: Café Point
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